Fui criado em um lar
onde religião nenhuma era admitida. Durante minha infância não recebi qualquer
educação religiosa e com a idade de 14 anos já me considerava ateu. ... Aos 14
anos estava eu tão convencido do ateísmo como os comunistas hoje. ...
Apesar de ateu, alguma
coisa inexplicável sempre me atraía às Igrejas. Era-me difícil passar por um
templo sem que lá entrasse. Entretanto, nunca entendi o que se passava em tais
igrejas. Prestava atenção aos sermões, contudo eles não apelavam ao meu
coração. Tinha certeza de que não havia Deus. Odiava a idéia de Deus como
Senhor a quem eu tinha de obedecer. Odiava a noção errada d’Ele, que tinha em
minha mente. Gostaria, porém, imensamente de saber da existência de um coração
meigo em algum lugar no centro do universo. ...
Sabia que não existia
Deus, porém sentia-me triste com a idéia de que tal Deus de amor não existisse.
Certa vez, em minha íntima luta espiritual, entrei em uma Igreja Católica: vi
ali gente de joelhos, dizendo alguma coisa. Então pensei em ajoelhar-me junto
a eles, tentando entender o que eles estavam dizendo, e repeti as rezas para
ver se algo me aconteceria. Eles rezavam à Santa Virgem: "Ave Maria, cheia
de graça". Repeti as palavras com eles muitas vezes, olhei para a estátua
da Virgem Maria, porém nada me aconteceu. Fiquei muito triste com isso.
Um dia, mesmo sendo ateu
muito convicto, orei a Deus. Minha oração foi mais ou menos assim: "Deus,
eu sei com certeza que Tu não existes. Porém, se por acaso Tu existires, o que
eu duvido, não é minha obrigação acreditar em Ti; é tua obrigação Te revelares
a mim". Eu era ateu, porém o ateísmo não dava paz ao meu coração.
Foi nessa hora de
tormenta íntima — como vim a descobrir depois — que em uma vila nas montanhas
da Romênia, um velho carpinteiro orava assim: "Meu Deus, eu Te servi na
terra e desejava ter minha recompensa tanto na terra como nos Céus. E a minha
recompensa deve ser que eu não morra antes de ter trazido um judeu para
Cristo, porque Jesus era do povo judeu. Porém eu sou pobre, velho e doente. Não
posso ir em busca de um judeu. Em minha vila não há judeu algum. Traze um judeu
à minha vila e eu farei o melhor que puder para levá-lo a Cristo".
Algo irresistível
levou-me àquela vila. Nada tinha para fazer ali. A Romênia tem doze mil vilas.
Porém eu fui àquela vila. Vendo que eu era judeu, o carpinteiro me cortejou
como nunca uma bela jovem havia sido cortejada. Ele viu em mim uma resposta às
suas orações e deu-me uma Bíblia para ler. Eu a havia lido antes várias vezes
por motivos culturais. Porém a Bíblia que ele me havia dado era de um tipo
diferente. Como me disse depois, ele havia orado horas a fio, juntamente com
sua esposa, pela minha conversão e a da minha senhora. E a Bíblia que ele me
deu fora escrita, não tanto com letras, mas com chamas de amor ateadas por suas
orações. Eu mal podia lê-la. Apenas chorava sobre ela, comparando minha
vida má com a vida de Jesus; minha impureza com Sua pureza; meu ódio com Seu
amor; e Ele me aceitou para ser um dos Seus!
(RICHARD WURMBRAND. Torturado por Amor a Cristo. VOZ DOS MÁRTIRES, 1976. p. 9)
Nenhum comentário:
Postar um comentário